29 de julho de 2009

..Ana


Sempre que voltava do trabalho, sentava num banco de madeira e acendia um cigarro. Passava um bom tempo lá, todos os dias, mas nunca conversou com ninguém. Na mesma proporção que sentia curiosidade pelos diversos tipos que passavam pela sua frente, sentia também nojo. Asco irracional pelo contato humano, como se o calor daqueles seres queimasse dolorosamente sua pele pálida e fina. Tanto que arranjou um emprego de forma que não precisaria falar com ninguém. Limpando o chão dos escritórios, se tornava invisível aos olhos dos executivos, das secretárias e dos demais bípedes que habitavam seu local de trabalho. Nunca havia recebido um aperto de mão, um cumprimento, ou sequer um olhar de ninguém dentro daquele prédio. Apenas o esfregão, os panos e o piso compunham o ambiente, todos os dias. Para ela, não importasse o horário, o prédio estava sempre vazio. Assim como a praça. Assim como toda a cidade.

Fazia um frio agradável naquela tarde. Sentava no mesmo banco, observava as pessoas que caminhavam por aquela praça. Alguns a passos calmos, outros num trote apressado. Alguns conversavam com alguém, outros passavam calados. Havia ainda os que conversavam sozinhos. Esses eram o que mais prendiam sua atenção. Para a maioria das pessoas, esses eram loucos. Mas não para ela. Toda vez que olhava para um desses, sentia algo parecido com inveja. Enxergava essas pessoas como possuidoras de uma autosuficiência rara, capazes de viver sem depender de nada, nem ninguém. Ninguém que odeie, que ame, que seja maleducada ou que abandone.

Era cada vez mais recorrente dentro dela o desejo de ter nascido autista. Ou retardada.
Talvez assim, não se culpasse tanto por tudo que havia acontecido dentro da sua breve - e vazia - existência. Não teria certeza que não há mais esperança de melhora, ou nem mesmo chegaria a um dia nutrir esperanças de algo.
Talvez não passasse os dias cultivando as flores do seu próprio funeral.

Conformada, terminou seu último cigarro, levantou-se, e caminhou até seu apartamento. Devagar.

(mais um fragmento...)

7 de agosto de 2008

Soberba

Se, quando se propõe a discutir futebol com um são-paulino, o máximo que você recebe é um olhar de desdém ou desprezo, não se preocupe, o problema não é com você. Para esse torcedor, é evidente que o São Paulo Futebol Clube é o maior clube do mundo. Não tem para time europeu nenhum. O Tricolor é o maior clube do Brasil, que tem o melhor futebol do mundo. Faça as contas.

E agora me responda: por que um torcedor que considera o seu time melhor do que qualquer outro – independente da equipe que põe em campo – se daria ao trabalho de tentar convencer alguém disso? Para o são-paulino, essa superioridade é tão clara que ele não precisa se prestar a persuadir ninguém.

Naturalmente que existem times tão ou mais competentes que o São Paulo. Mas o torcedor tricolor está ungido de uma tal soberba que, por maiores que sejam as conquistas das outras agremiações, elas sempre serão diminuídas perante a grandiosidade são-paulina. Essa forma megalomaníaca de enxergar o próprio time atribui a todo tricolor um ar de superioridade e o envolve de uma nobreza fictícia numa época em que ser nobre não significa mais nada.

O são-paulino reina soberano no Brasil, só que coroado por ele mesmo. E, por mais irritante que seja seu comportamento, reluto em condenar o torcedor do São Paulo por sua arrogância. Seu clube tem cinco títulos nacionais, além de cinco vice-campeonatos e três terceiros lugares no Brasileirão. Isso quer dizer que o time do Morumbi chegou ao final de 13 competições de um total de 37 – ou seja, um terço. Além disso, o São Paulo é o único tricampeão continental e mundial do país.

O desempenho do Tricolor é tão inquestionável que, desesperados, encurralados pela magnitude desse clube, os torcedores adversários apelam invariavelmente para insinuações homofóbicas no debate com um são-paulino. O apelido de “bambi” não é mais que um grito singelo das outras torcidas por misericórdia. Não dá para dizer que o São Paulo não tem estádio. Ou que aquela parceria com uma empresa estrangeira deu errado.

O são-paulino recebe tantos afagos de seu clube que eu diria que ele é daquele tipo de cara criado pela avó. Ele é o torcedor mais mimado do Brasil – e conseqüentemente o mais pedante. O time praticamente não passa por crises e invariavelmente é citado entre os prováveis campeões das competições que disputa. No Morumbi não tem perigo de rebaixamento ou goleada. Torcer pelo São Paulo é, de fato, uma moleza. Fácil até demais, eu diria. Quer dizer, onde é que fica a emoção?

Essa história vencedora do clube reveste o são-paulino de uma tranqüilidade irreal e única. A certeza de que o trabalho está sendo bem feito enche de orgulho o torcedor tricolor, que perde o possível prazer que pode haver em uma derrota. É difícil sofrer pelo São Paulo, e sofrer faz parte do jogo. Para algumas torcidas, aliás, sofrer é uma prova de amor ao clube.

Pior: se existe um lado ruim na glória permanente é a possibilidade da sua banalização. E, nos últimos anos, o São Paulo triunfou tanto que deixou o seu torcedor mal-acostumado. O Tricolor do Morumbi é tão vitorioso que a torcida não se contenta mais com pouco. O são-paulino elegeu o maior campeonato do continente como sua principal meta, e, ainda assim, essa copa significa apenas um passaporte para seu objetivo máximo, que é a conquista periódica do mundo.

O resultado disso é um estádio vazio. O Cícero Pompeu de Toledo tem capacidade para 80 mil pessoas, mas algo me diz que o são-paulino só lotará as suas dependências quando a final do campeonato mundial de clubes for disputada ali. Os campeonatos nacionais se tornaram pequenos demais, só que são as disputas que duram mais tempo. A exigência alta tornou fugazes os momentos de prazer do são-paulino, que virou uma espécie de torcedor frígido.

O gozo é mais difícil pelas bandas do Morumbi, e, por isso, mais raro. É preciso enfrentar o Milan, o Barcelona, o Liverpool; é preciso medir forças com seus iguais para referendar o seu reinado, mas esses embates são raros demais, e, por mais que o orgulho cegue o são-paulino para a possibilidade da derrota, seu time não ganha sempre.

Resumo? O são-paulino é tão enjoado, mas tão enjoado, que não se incomoda nem de falar mal de si próprio. Ele sabe que é tudo mentira.


4 de agosto de 2008

Caminho

Dirigia seu cupê cinza por aquela estrada, absorto. Já havia alguns dias que sua raiva havia passado, só pensava agora na estrada que se desenhava através dos faróis. Os fachos de luz atravessavam a leve neblina que pairava quieta sobre o asfalto, e o bólido cinza como lâmina única, decidida a seguir seu caminho. Não importava quão íngreme a subida ou a descida, se deslocava constante, sem medo. Seus olhos cansados apenas fitavam o final daquela reta... Havia quilômetros naquela estrada sem encontrar uma única curva. Ao lado, as plantas se dobravam conforme ia passando, numa suave reverência aos que vêm e vão. Aos que tiveram a coragem de deixar o calor de suas lareiras, dos seus amigos e parentes, partindo rumo a todos os lugares... e ao mesmo tempo a lugar nenhum. Sem olhar para trás. Amanhecia. Seu sono, reflexo das longas horas ao volante, o lembrava que precisava parar... mas quando? Assim como o sentimento que o fez deixar a cidade, não esperava encontrar lugar para descansar nesse dia que se anunciava, com os primeiros raios de sol tocando o capô do carro. Não tinha expectativas. Era cheio de esperanças, de encontrar as novas praias, novos rostos sorridentes, novas vidas; no entanto, não nutria expectativa nenhuma. Se não achasse nada, absolutamente nada do que esperava encontrar onde quer que estivesse indo, o simples fato de estar ali, indo de encontro ao seu medo do desconhecido, já o deixava satisfeito. E era isso que o impelia a deixar seu pé firme no pedal, as mãos seguras ao volante.

Viu um pequeno ponto vermelho no final daquela longa reta. O sol já vinha se impondo a algum tempo sobre seus olhos, então apagou os faróis e seguiu. Alguns instantes depois, viu uma cancela se fechando, a luz vermelha piscando sobre ela. Parou, abriu a porta e desceu. À sua esquerda, quase desaparecendo no horizonte, uma grande montanha, e sobre ela uma nuvem ainda maior, negra, se afastando mais e mais. Fitou por mais uns instantes aquele gigante, e desceu seus olhos. O som do trem ficava mais e mais claro, assim como sua imagem, saindo de dentro das árvores ao longe, em sua direção. Um banco de madeira ao lado da cancela chamou sua atenção. Cansado, sentou nele e inspirou profundamente, buscando o frio ar daquela manhã. E o trem chegou até ele. Passando lentamente por ele, que observava os poucos passageiros que passavam dentro dos vagões escuros e velhos. Uma criança, fitando seus olhos de dentro do trem, fisgou sua atenção. Seus olhos vazios o lembraram do mesmo vazio que ocupava sua vida tempos atrás, quando deixou a pulsante cidade em que vivia para tentar, talvez, preencher esse vácuo em algum outro lugar, alguma outra vida.

O trem seguiu, fluindo seu pesado corpo de metal rumo a outro canto, lugar esse que ele não iria. Não agora. Levantou-se devagar, e, retornando ao carro, viu um pedaço de papel no chão, próximo aos trilhos. Provavelmente o garoto havia jogado-o fora. Pegou aquele pequeno pedaço de papel, vermelho e desbotado. Era uma passagem de trem... lembrou-se de quando realizou essa mesma jornada, de tudo que passou, de toda a chuva. Mas simplesmente amassou-a novamente, jogou por cima de um dos ombros, entrou no carro, e seguiu em frente.

18 de dezembro de 2007

Reflexo

Sentado à beira do cais, mirava as pequenas ondulações que os barcos produziam ao longe, naquela tarde calma de janeiro. Tudo parecia conspirar para que ficasse ali pelo resto do dia. Procurava memorizar cada estímulo que recebia do mundo: a brisa tocando os pêlos do seu braço, esticava os dedões do pé dentro d'água. Olhava para o lado oposto da baía, para onde todas as nuvens pareciam rumar, e se esconderem do fim do dia.

Fazia um bom tempo que não se sentia a vontade o suficiente pra revisitar todas essas sensações, pequenos pedaços daquela felicidade besta da infância. Nunca sobrava muito tempo pra deixar de ser quem precisava ser, e se enxergar do jeito que mais gosta.

Aproveitando cada pequeno momento daquele êxtase solitário.

"Quem nunca precisou de um tempo sozinho?" - Se perguntava, porquê depois de tanto tempo passou a achar errado, egoísta e hipócrita querer se isolar, e pensar na vida. Na sua vida.

Tudo bem, sua vida não era lá motivo de uma autobiografia, com todas as agruras e prazeres de uma pessoa normal, que ri, chora, sonha, se dá mal de vez em quando... mas pra ele não. Pra ele, todas as coisas se encaixavam de uma maneira sobrenaturalmente certa, se bem que por vezes perdia o fio da meada, e não conseguia enxergar mais as coisas com clareza. E era nesses momentos que precisava se retirar um pouco da situação, se transportar pra fora de si, e analisar minuciosamente aqueles detalhes, aquelas cenas em que machucava, enganava, omitia, sem perceber. O problema era que precisava fazer aquilo com uma frequencia maior que o resto das pessoas que conhecia. E uma das coisas que o deixavam mais triste era quando confundiam essa sua necessidade com desamor.

E amor era uma das coisas que ele mais tinha dentro de si... mais do que podia perceber nas outras pessoas. Às vezes tanto que ele precisava sair, fugir, vomitar pra não engasgar com ele. Sentia que algumas pessoas se decepcionavam com ele, e isso o matava por dentro. Queria deixar todos felizes, corresponder às expectativas das pessoas que ele amava. Mas ele sabia que isso era tão impossível quanto seu desejo de andar sobre a água da baía e ver as nuvens mais uma vez.

A tarde caía, e ele acendeu mais um cigarro, tragando-o lentamente. Achava que a fumaça ativava a sua imaginação, e assim voava. E se tornava o artífice de mais uma fuga, de mais um devaneio. Olhando sua imagem impressa no mar, sonhava em ser o ditador de um pequeno país. Obviamente, esse país era uma pequena ilha no pacífico, ou no caribe, talvez. Um maço de cigarro, uma brisa fresca e aquela mesma baía em sua frente.

E mais ninguém.

Então, a tarde se foi, assim como seu reflexo na água.

16 de abril de 2007

Era alta madrugada naquela espelunca, quando ela entrou. Já tinha perdido a conta de quantas doses de conhaque barato tinha tomado, naquele canto esquecido e fedorento da cidade. Era o quarto ou quinto bar que fechava naquela noite. Foi uma noite realmente atípica. Gosto de sair sozinho, mas encontrei gente conhecida em cada lugar em que parei. Odeio encontros inesperados. Gente inconveniente, com a mesma conversa parada, o mesmo marasmo, discurso ensaiado na ponta da língua, que fora afiada por noites e noites afora.

Estava cansado. Umas 12 horas bebendo sem parar, na velha caminhada rumo a um final de noite ébrio. Sentado de costas para a porta, levantei rápido e segui cambaleando até o balcão, mão dentro do bolso da jaqueta buscando qualquer punhado de notas amassadas. Tinha pressa. A gastrite me lembrava que eu ainda tinha uma casa. Ainda. Foi quando a vi, entrando no bar. Seus cabelos despenteados, pintados com um vermelho tão barato quanto sua maquiagem, a deixavam com uma aparência ainda mais doentia, dada sua magreza excessiva. Sua pele era cinza, quase como o resto do cigarro que fumava. O que mais me chamou a atenção foi ninguém ter desviado o olhar para sua figura bizarra, mesmo com aquele vulgar vestido branco, curto e rente ao seu corpo esquelético. Ela entrou com os olhos baixos, passou por mim, e assim prosseguiu até encontrar uma mesa vazia, num canto oposto ao que me encontrava. Sentou, e o barman pegou uma cerveja no freezer, e levou a ela, entregando a garrafa com desdém. Eles já deviam se conhecer de alguma forma. E assim continuei por um breve momento, fitando aquela estranha, num misto de atração e repulsa.

Eu sempre sinto isso. Tanto que já considero essa sensação como um vício, um vício inútil e que não me acrescenta em nada, mas não consigo parar de gostar de sentir. Quanto mais estranha a pessoa, quanto mais patética, mais cresce essa atração, essa vontade de estar perto, de tocar, de sentir o cheiro. E na maioria das vezes, a outra parte nem faz ideia de que minha busca não está nela. Ela é apenas um canal, o veículo da sua própria excentricidade, da qual me alimento. E essa mulher fez isso comigo. De uma forma soberba. Não conseguia parar de olhar seu rosto, suas pernas e braços finos. Sua cor medonha. Esqueci da gastrite, e pedi mais uma cerveja, a mesma que ela bebia desesperadamente, com a sede dos que se perdem no deserto. A mesma sede que ela me despertou. Minhas pernas me impeliam ao encontro dela, mas não podia. Não sei por que, mas não podia.

Nesse momento um homem entrou, passos pesados e largos. Traços rudes, e um semblante irritado, algo nervoso. Sentou na mesa em que ela estava, sacou algum dinheiro do bolso e lançou as notas sobre a mesa, rapidamente. Ela olhou para o dinheiro, murmurou algo e se levantou com ele. Foi aí, nesse exato momento, que a coisa mudou. Ela lançou um olhar rápido sobre mim, e então vi seu rosto inteiro, assim como ela viu o meu. Os mesmos olhos e olhares de 15 anos atrás.

Éramos crianças e nos amávamos. Agora somos um bêbado e uma vadia.
Eu e Ana.

7 de abril de 2007

Ana

O relógio a despertou, no mesmo horário de ontem: 5:50 da tarde. Os olhos se abriram com uma dificuldade enorme, como se tivessem jogado caminhões de areia dentro deles... O som intermitente do despertador era distante, mas mesmo assim a incomodava muito. Com muita dificuldade tocou o botão, fazendo parar aquela maquininha infernal. Percebeu que estava completamente torta na cama. O lençol a enrolava como a uma múmia, sepultada naquela cama há séculos. Conforme tentava despertar, ia percebendo as nuances do quarto: a janela estava aberta uns dois dedos, talvez para ajudar a livrar a casa do ar estagnado; o vento balançava a cortina. Um pequeno ventilador girava de um lado para o outro, como o único vigia de seu sono anestesiado. Umas poucas gotas de chuva na janela; talvez estivesse começando a chover, nada incomum naquele outono parado.

Sua mão ainda estava sobre o despertador. Nesse momento, reparou nas suas mãos e braços. Pálidos, como de costume, mas talvez nesse momento um cinza caberia melhor como a cor da sua pele lisa, sem pêlos. As unhas estavam grandes, e o esmalte marrom descascado; sempre tinha preguiça de tirá-los quando necessário. Havia um esparadrapo no indicador esquerdo, mas não se lembrava de ter se machucado.

Estava visivelmente mais magra, mas já não se preocupava com isso já fazia algum tempo. Sua balança estava devidamente esquecida sob o armário da pia do banheiro. O cardápio de sua dieta caído no chão da cozinha, junto com o telefone do médico.

Finalmente conseguiu largar o despertador. Instintivamente sua mão procurou o maço de cigarros no criado-mudo. Ainda deitada, acendeu um cigarro, olhando para a janela. Via apenas a ponta de um ou outro prédio, e o céu nublado, que anunciava chuva forte. Pensou em várias coisas: poderia ligar a tevê, mas logo desanimou; talvez um livro, mas já tinha lido todos os que tinha e poderiam interessá-la. Alem disso, não agüentava mais livros de auto-ajuda. Uma revista, talvez? Há meses não comprava uma revista. Finalmente pensou num café quente, que a ajudaria a despertar. Num esforço repentino, sentou na cama, apagou o cigarro no cinzeiro cheio e levantou-se, rumo a cozinha.

O cenário que a cozinha montara denunciava a festinha solitária que fizera algum tempo antes. Uma garrafa de vodka sobre o balcão, alguns limões numa tábua, e a faca suja de sangue. Lembrou onde machucou o dedo. O aparelho de som sobre uma cadeira ainda estava ligado, tocando um CD velho. Um jazz antigo, talvez. Os últimos comprimidos da cartela ainda espalhados ao lado da tábua de madeira. Enfim, tudo estava bem bagunçado, mas ela só queria tomar uma xícara de café. Finalmente achou a cafeteira num canto, ligada, que mantinha o café ainda quente. Quando segurou a jarra, levando-a em direção a pia, a alça se rompeu, e caiu no chão. O chão ficou repleto de cacos de vidro, e o café se espalhou ao redor dos seus pés. Ficou alguns instantes atônita, e lentamente se agachou, na intenção de pegar os restos da jarra de café. Então, ali mesmo, agachada, começou a chorar, olhando para o café morno e o vidro, ali entre os dedos dos pés.

um velho fragmento que continua...



Às vezes seria bom ter uma borracha pra apagar esse sinalzinho maldito. Quanto mais se o tem na vida, mais ficamos parecidos com ele. Definhamos por dentro, ficamos corcundas com o peso de tantas interrogações com (e sem) sentido, até separarmos os pés da cabeça, partindo coração, mente e corpo nesse processo lento mas inevitável.

Aí viramos uns míseros pontos finais, que alguém, se perceber, apaga.